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Notícia

PEDI A DEUS UMA PREGAÇÃO DIFERENTE

Até o estulto, quando se cala, é tido por sábio,e o que cerra os lábios, por inteligente.Provérbios 17:28.

Há alguns anos fiz uma palestra sobre comunicação onde distingui cinco tipos de ouvintes: o ouvinte precipitado (ainda nem ouviu o que o outro tem para dizer e já presume que sabe tudo), o ouvinte egoísta (enquanto ouve associa tudo que está sendo dito a si mesmo, defendendo-se ou exibindo-se), o ouvinte seletivo (ouve o que quer e finge não ouvir o que não quer), o ouvinte irritadiço (detesta ouvir e faz questão de demonstrar essa insatisfação mesmo enquanto ouve) e o ouvinte dissimulado (finge ouvir, para agradar, enquanto permite que sua mente divague por outros temas ou mundos). Todos eles têm algo em comum: são péssimos ouvintes.

O bom ouvinte é paciente; espera que o outro diga e até que diga o que tem a dizer. Enquanto ouve, tenta perceber os sentimentos e as intenções por trás de cada palavra. O bom ouvinte é solidário, pois compreende a força terapêutica do desabafo. Sente-se bem por ouvir e, em ouvindo, poder ajudar. O bom ouvinte é dedicado e intenso, capaz de ouvir com igual atenção relatos de problemas corriqueiros e narrativas de grandes tragédias. Não julga o assunto, pois acolhe a pessoa. É manso, sereno, tranqüilo e amável. Tem prazer nos relacionamentos. É íntegro, franco, verdadeiro e sincero. Ouve porque também gosta de ser ouvido, mesmo que nunca seja. Sabe que está cada vez mais difícil encontrar quem nos ouça.

Há algum tempo escrevi um texto denominado “a arte de ouvir”. Destaquei quatro razões por que ouvimos tão pouco e cada vez menos: 1) porque entramos na roda viva da luta pela sobrevivência, na qual ouvir é perda de tempo e tempo é dinheiro (a correria afasta as pessoas); 2) porque nos tornamos juízes do mundo e das pessoas ao nosso redor (juízes lidam com fatos, veredictos, respostas e soluções, não com sentimentos); 3) porque estamos tão ligados em nós mesmos, em nossa própria batalha existencial, que a palavra do outro logo é assumida como se fosse uma oportunidade para falar de nós mesmos; e 4) porque, mais importante que tudo, nos distanciamos de Deus (oramos pouco, ouvimos com dificuldade o que Deus tem a nos dizer e nos tornamos carentes daquela vida que somente Deus pode nos oferecer, embora tentemos depositar sobre os outros nossas expectativas e demandas afetivas). Quem quer atenção, normalmente, não está disposto a dar atenção. Vive com raiva das pessoas e decepcionado com elas.

Preciso de sabedoria para preferir o ouvir ao falar. Mais sábio, encontrarei tempo para os relacionamentos e compreenderei melhor as pessoas, seus sentimentos, suas crises e suas necessidades afetivas. Mais sábio, sairei do centro e romperei com toda tendência natural ao egocentrismo. Enfim, mais sábio, buscarei mais a Deus e tentarei estar mais sensível à sua voz. Creio que ouvir a Deus me capacitará a ser mais útil ao meu próximo. Quem sabe, tornar-me-á mais sóbrio para ouvir e mais discreto no falar.

Há quase dois mil anos, o apóstolo Tiago escreveu: “todo homem deve ser pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar” (Tiago 1:19). Poucos o ouviram, até agora. E, os que o fizeram, tornaram-se mais aptos para a vida.

Mais recentemente, Rubem Alves escreveu: “Somente sabem falar os que sabem fazer silêncio e ouvir”. Os poucos que também pararam para pensar nisso estão muito mais animados a controlar os próprios lábios. Quem sabe, conseguem?

 

Pr. Marcelo Gomes

1ª Igreja Presbiteriana Independente

Maringá – marcelo@ipimaringa.org.br