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Notícia

Páscoa, Ceia e Esperança Cristã

Em algum lugar entre a chegada do “coelhinho”  e o desembrulhar salivante dos “ovos de chocolate, perdeu-se o significado deste que é, sem dúvida, o evento por excelência na história do Antigo Testamento: a Páscoa – ou passagem, sinal e símbolo maiores da libertação de um povo sob domínio egípcio havia quatro séculos.

Na páscoa dos judeus ninguém comeu chocolates ou doces. Houve, isso sim, quem comesse ervas amargas, para lembrar a opressão sofrida em terra estranha; carne de cordeiro, para lembrar a matança que excluiu misericordiosamente as casas dos hebreus; pães sem fermento, para lembrar a urgência de um livramento que não permitiria à massa crescer; vinho, tinto como o sangue nos umbrais das portas, para lembrar o alto preço de tão grande salvação. Não eram elementos com apelo publicitário. Eram um memorial salvífico, uma celebração da graça libertadora de um Deus interessado e solidário.

Ainda antes dos “coelhos com seus ovos”, a Páscoa foi mais uma vez celebrada e re-significada para sempre, num lugar marcado pela tristeza e por anúncios de traição e abandono: o cenáculo, local escolhido para ser o ponto de partida daquele caminho que conduziria ao calvário e à cruz, símbolos de uma nova libertação para um novo povo, escravizado sob as cadeias de seus pecados havia milênios.

foi ali, naquele cenário sem enfeites ou cores, que o Cordeiro de Deus, imaculado e sem defeito, anunciou pelo partir do pão o partir de sua própria carne em favor da humanidade. Ali o Cordeiro de Deus bebeu de um cálice que denominou “da nova aliança” em seu sangue, derramado para remissão dos pecados. Ali o Cordeiro de Deus, entre angústias mais amargas que quaisquer ervas, instituiu uma Páscoa-Ceia diferente, mais rica e plena de significado, a ser reproduzida por todos quantos não querem esquecer do grande amor de Deus revelado em gesto tão generoso: “fazei isto em memória de mim”.

E foi bem ali, na apresentação inaugural das bases de um Novo Testamento, sem mais cordeiros, coelhos ou qualquer outro animal cujo sangue já não pode salvar, que esta Páscoa-Ceia-Memorial tornou-se o centro da esperança cristã de todos os tempos: recebeu uma promessa, uma garantia de que seria celebrada, finalmente, no Reino de Deus. Comeremos do pão e beberemos do cálice na mesa do Cordeiro também Leão, servidos por anjos e na alegria da vida eterna. E os que esperam com fé não serão confundidos.

Eis a Páscoa cristã – Ceia do Cordeiro. Eis a bondade do Deus libertador e salvador que, em Cristo, reconciliou consigo um mundo mergulhado em pecado e incapaz de alcançar por seus esforços a herança de sua filiação. Eis nosso memorial – grata memória. Eis a esperança que não pode ser frustrada e que jamais, jamais deve ser esquecida: “fazei isto em memória de mim”.

Que Deus nos renove a lembrança e a esperança da Páscoa de Jesus Cristo. E que não nos deixe continuar vivendo da doce-trágica fantasia de acreditarmos ser felizes encontrando ovos de chocolate que um tal coelho teria “botado”.

Pr. Marcelo Gomes

1ª Igreja Presbiteriana Independente Maringá